Estratégias da Imagem


Estratégias da Imagem
Organização: Jane de Almeida
Catálogo da mostra
ISBN 8598100021

Estratégias da Imagem: Cinema e pós-cinema

“O cinema é uma invenção sem futuro”. Essa frase foi dita por Louis Lumière e relembrada por Godard no seu filme metalingüístico O desprezo.  Prokosch (Jack Palance), Camille (Brigite Bardot), Paul (Michel Picolli) e Fritz Lang estavam na Cinecittà tentando reinventar a Odisséia através das imagens do cinema. Algo ali se perdia e quanto mais se tentava filmar as esculturas e os personagens gregos, mais eles revelavam seu teor decadente de falsificação. Muitos elementos estão em jogo neste filme e um deles é o cinema como máquina de duplicar mimeticamente a realidade, além da imposibilidade de retorno às origens.

O cinema, desde o cinematógrafo dos Lumière, teve futuro. São mais de cem anos de prolífica produção de imagem em movimento. Mas em que medida o cinema continua sendo uma invenção?

Em cem anos muitas experiências foram feitas, mas a máquina cinematográfica ganhou concorrentes mais leves, mais ágeis, mais baratos para a produção de imagem em movimento. Vê-se, num primeiro momento, o pudor com que a produção cinematográfica, principalmente a que se preconizava “filme de arte”, tratou essas novas tecnologias. Mas foi exatamente com elas que algumas produções se viram revitalizadas em suas experiências. Antonioni e Godard, mestres do filme de autor, se dispuseram a manipular suas imagens a partir das novas tecnologias, montando, editando e “bricolando” um novo cinema. Alexander Kluge já nasce como autor manipulando materiais diversos despudoradamente.

No Brasil, mesmo que não se verifique uma produção cinematográfica representativa que se distancie do realismo-naturalismo, pode-se encontrar experiências com extrema qualidade reflexiva como as de Marcelo Masagão e Eryk Rocha que manipulam diferentes materiais imagéticos e aproximam suas obras das linguagens hipertextuais. Outros autores, como Bergman e Resnais, mesmo tendo permanecido fiéis à película apresentam filmes com impressionantes procedimentos de linguagem, quase como se já tivessem em mente o potencial das novas tecnologias. Podem ser considerados precursores dos efeitos dos hibridismos, da interatividade e da reticularidade da hipermídia.

Virgil Widrich apresenta a outra ponta do processo ao manipular tecnologias contemporâneas para construir um filme esteticamente semelhante à uma mistura das experiências cinematográficas dos surrealistas com a repetição obsessiva das imagens quadriculadas dePudovkin em A febre do xadrez, ambos do início do século XX. Mas, os propósitos do filme vão desde o pesadelo da duplicação da identidade até uma reflexão do cinema como máquina de copiar a realidade.

Muitos outros cineastas souberam manipular magnificamente a tecnologia do cinema, mas pode-se destacar nestes autores a preocupação reflexiva que oferece uma abertura icônica sem a limitação interpretativa e para além de meros efeitos pirotécnicos. Por outro lado, a produção de imagem em movimento por meio das novas tecnologias parece fazer tábula rasa da história do cinema. Poucas são as produções que levam em conta a sofisticação destes filmes e se pautam principalmente pela estética e pelos jogos mais decodificados do cinema.

Esta mostra seleciona um pequeno número de filmes significativos para o cinema e que antecedem ou apresentam questões propostas pelas tecnologias mais atuais. Neste sentido, alguns filmes antecipam a recriação do homem que as tecnologias dos nossos dias propõem. Outros já trabalham a partir delas, aceitando os desafios que elas oferecem. Espera-se assim não apenas pensar o cinema que se reinventa, mas desafiar os produtores de imagens em movimento – que não necessitam se fixar apenas na projeção de película em uma tela única dentro de salas fechadas – a refletir, argumentar e produzir obras com a envergadura intelectual que o cinema tem nos oferecido.

Jane de Almeida
curadora

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